sábado, 15 de outubro de 2011

USP cria fibrocimento mais resistente usando bambu

Placa de fibrocimento reforçada com polpa organossolve de bambu, que mostrou alta resistência

 e padrão de absorção de água melhor que o exigido pela legislação.[Imagem: Ag.USP]
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma nova técnica para usar o bambu como matéria-prima para a produção de materiais de fibrocimento.
Até há poucos anos, telhas e caixas d'água, entre vários outros produtos, eram fabricados usando fibras de amianto, um material carcinogênico que vem sendo banido mundialmente.
Organossolve
Viviane da Costa Correa e Holmer Savastano Junior demonstraram que é possível obter a polpa de bambu pelo método organossolve, uma técnica que utiliza reagentes orgânicos para retirar a lignina, um dos componentes do bambu.
A técnica tem a vantagem adicional de facilitar a recuperação dos solventes utilizados no processo, um elemento importante para a viabilização econômica e para evitar a geração de poluentes.
Viviane explica que a obtenção da polpa geralmente é feita por um processo denominado kraft, utilizado em larga escala industrial para a fabricação de papel a partir da madeira.
No processo kraft, são utilizadas diversas substâncias químicas que separam os seus componentes, como a lignina e a celulose.
No processo organossolve para obtenção da polpa de bambu, são utilizados solventes orgânicos, basicamente etanol e água, bem menos poluentes que os agentes químicos do processo kraft.
Vantagens do bambu
Uma das linhas de pesquisa do Laboratório de Construções & Ambiência, em Pirassununga (SP), envolve a adição, na matriz cimentícia, de fibras residuais da agroindústria, como bagaço de cana-de-açúcar e resíduo da produção de sisal, visando a produção de telhas e fibrocimento.
"Neste estudo utilizamos o bambu, porque ele apresenta a vantagem de ter um crescimento mais rápido que a madeira e suas fibras são bem resistentes", conta Viviane, que utilizou a espécie Bambusa tuldoides.
A polpa obtida pode ser adicionada diretamente à matriz de cimento, dando uma maior resistência às placas de fibrocimento, inibindo a propagação de fissuras e proporcionando uma maior absorção de impactos em relação à matriz sem fibras.
"Uma das constatações do estudo é a viabilidade do método organossolve para obtenção da polpa de bambu. Ele poderia ser usado por pequenos produtores para produções em baixa escala e a lignina extraída poderia ser comercializada," diz Viviane.
Outra vantagem do processo organossolve é a menor emissão de enxofre no ambiente.
Resistência e absorção de água
A segunda etapa do estudo avaliou a adição da polpa de bambu à matriz de cimento, em diferentes proporções, visando a fabricação de placas de fibrocimento.
A adição foi realizada na proporção de 6, 8, 10 e 12% de teores em massa seca, em relação à matriz cimentícia.
"Os testes que realizamos mostraram que a adição de 8% de polpa de bambu apresentou os melhores resultados," conta Viviane.
A pesquisadora comenta ainda que, nos testes de absorção de água, as placas de cimento reforçadas com polpa de bambu apresentaram um percentual máximo de 26%. "A norma para fibrocimento estabelece 37% como limite máximo de absorção, mostrando mais uma vantagem do produto."
A linha de pesquisas da USP que busca alternativas ao amianto já rendeu diversos produtos, entre os quais fibrocimentos à base de bagaço de canasubprodutos da siderurgia e outros inspirado em vários materiais naturais.

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