Raquel Aguiar
Uma das primeiras substâncias químicas reconhecidas como tóxicas ao sistema endócrino humano foi o fósforo, associado a doenças da glândula tireóide já no início do século 20. Benzeno, chumbo e cádmio foram ligados a doenças endocrinológicas nas décadas de 1920 e 1930 e, na década de 1940, começaram as observações dos efeitos desmasculinizantes do pesticida DDT. Desde então foram constatados os efeitos de diversas substâncias químicas, entre metais, ametais e agrotóxicos, sobre a saúde humana. Conheça algumas destas substâncias, seus usos e possíveis efeitos nocivos sobre a saúde do sistema endocrinológico.
DDT (dicloro-difenil-tricloro-etano) - agrotóxico pesticida organoclorado. Pode retardar a puberdade e reduzir a fertilidade.
DBCP (1,2-dibromo-3-cloropropano) - agrotóxico. Entre trabalhadores em contato direto com o DBCP pode haver redução da produção de espermatozóides. A exposição ao produto está associada à redução do número de nascimentos de meninos.
HCB (hexaclorobenzeno) - agrotóxico organoclorado usado no combate a fungos na agricultura. Em doses letais, acumula grande quantidade de gordura no fígado. Pode causar hipoglicemia e alterações no metabolismo da vitamina A. Na década de 50, na Turquia, cerca de quatro mil pessoas desenvolveram porfiria por ingestão de HCB. Houve morte extensa de crianças menores de dois anos, expostas por via placentária e pelo leite materno. Os sinais da doença se estendem por décadas.
PCBs (bifenilas policloradas) - presente no fluido de transformadores. Altera o metabolismo de lipídios, causando elevação das taxas de colesterol e de triglicerídeos. Ligado diretamente a distúrbios na saúde reprodutiva de homens, primatas, roedores e peixes. Pode ser tóxico à glândula adrenal. Em Taiwan, em 1979, duas mil mulheres foram contaminadas por PCB presente em óleo de cozinha. Os filhos destas mulheres apresentaram hiperpigmentação, reduzida capacidade cognitiva e baixo desenvolvimento peniano.
DBTC (dicloreto de dibutilestanho) - estabilizante usado em plásticos. Pode causar pancreatite aguda.
PVC (cloreto de polivinila) - material básico para a produção de tubos plásticos e cartões de crédito. Em trabalhadores, está associado ao câncer de testículo.
Benzeno e tolueno - intermediário na produção de substâncias como estireno e nitrobenzeno, componente do petróleo e da gasolina. O uso como solvente foi reduzido devido a seu potencial cancerígeno.
Cloreto de vinila - usado na fabricação de plásticos. Inibe a glândula tireóide e pode causar insuficiência reversível da glândula adrenal.
Dioxinas e furanos - agrotóxicos organoclorados utilizado como conservante de madeira. A semelhança com os hormônios tireoidianos faz com que possam bloquear sua ação. Associado a alterações no fígado e hipotálamo. No caso clássico da cidade de Seveso, na Itália, onde em 1976 houve grande exposição da população pelo vazamento de TCDD (tetraclorodibenzo-p-dioxina) de uma fábrica, aconteceu preponderância no nascimento de meninas. Pode afetar a libido e a fertilidade, causando mudanças no comportamento sexual de peixes, pássaros, mamíferos e répteis machos. Existe suspeita de causar endometriose.
Dissulfeto de carbono - usado na fabricação de filmes, no refino da parafina, na produção de viscose e rayon, entre outros. Pode gerar alterações na taxa de colesterol, além de provocar aumento da incorporação de colesterol na parede arterial. Pode causar hipotiroidismo e alterações na glândula adrenal. Existem relatos de impotência desde a década de 1930. Causa alterações na produção de espermatozóides e redução na taxa de testosterona.
Ftalatos - usados na produção de peças de automóveis, suprimentos médicos, invólucros de plástico para alimentos e frascos de bebidas. A exposição pela via alimentar ou pelo uso de materiais médicos pode causar atrofia testicular e redução da fertilidade.
Percloroetileno - ssolvente usado para gorduras, ceras e borrachas, principalmente na indústria de lavagem a seco. Aumenta o risco de infertilidade em mulheres.
Alumínio - alterações reversíveis no hipotálamo e hipófise. A exposição a grandes quantidades de alumínio pode levar à degeneração de células destas glândulas.
Cádmio - intoxicações crônicas estão ligadas a alterações no metabolismo do cálcio, causando problemas ósseos e cálculos renais.
Chumbo - a atuação do chumbo na esterilidade de mulheres é conhecida desde o século 19. Responsável por irregularidades menstruais e nos ciclos de ovulação, além de disfunções reprodutivas em homens e mulheres, inclusive com a redução dos níveis de testosterona e baixa concentração do esperma. Há relatos de redução do hormônio de crescimento entre crianças e dos níveis de vitamina D. Em metalúrgicos expostos a altas doses de chumbo foi verificada exaustão funcional da tireóide.
Cobre - nocivo para a glândula adrenal.
Manganês - em trabalhadores, há relatos de efeitos similares aos do chumbo.
Mercúrio - a exposição crônica causa aumento da glândula tireóide. Em mulheres, gera cólicas menstruais severas. A ligação que o mercúrio estabelece com o ácido lipóico afeta o processo de geração de energia pelo corpo, podendo contribuir para a fadiga crônica.
Níquel - pode afetar funções renais e a hipófise.
Selênio - redução do crescimento e disfunção sexual.
As informações sobre substâncias químicas ligadas a doenças do sistema endócrino fazem parte do capítulo Endocrinopatologia associada ao trabalho, de William Waissman, publicado no livro Patologias do trabalho (Editora Atheneu).
Fonte: Fiocruz em http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=341&sid=9
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