segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Autobiografia, texto de Erasmo Braga


Autobiografia

            Nasci na encosta de um outeiro e fiquei, dentro em pouco, um pinheiro delgado e elegante. Tão elegante que, uma senhora, passando com seus filhos perto de mim, desejou-me para árvore de Natal.
             – Como ficará lindo carregadinho de presentes e de doces, com as velinhas de cores – exclamou uma das meninas que acompanhavam a senhora.
            Estremeci até as raízes, pensando que logo me haviam de arrancar, para, no grande e festivo dia das crianças, ir adornar um salão de uma escola ou de uma casa abastada.
            Passaram, porém, muitos anos, e ninguém veio buscar-me para a festa de Natal.
Minhas raízes aprofundaram-se mais; meu tronco tornou-se alto e forte; estendi para o céu ramarias possantes, que as tempestades não puderam derribar. Todos os anos, as pinhas enfeitavam meus galhos; quando amadureciam, aves, animais e homens vinham à minha sombra colher os frutos, que se espalhavam pelo chão. Eu era a maior e mais bela de todas as árvores daquela região.
            Mas, o dia funesto chegou. Um homem aproximou-se de mim, olhou-me com atenção de alto a baixo e fez, a facão, um sinal no meu tronco. Vieram depois operários musculosos, de machado em punho; logo eu estava deitado no solo, com ramos partidos. Estava reduzido a um simples madeiro – eu, o rei dos vegetais de toda aquela redondeza.
            Arrastaram-me, em seguida, para uma fábrica e reduziram-me a uma polpa branca.
Nenhum dos meus camaradas me houvera reconhecido, quando, transformado em alvo lençol, sofria a última demão, a fim de aparecer no mercado sob a forma de papel. Que torturas padeci: os golpes mortíferos do machado, o talho agudo das lâminas que me dilaceravam, o ardor das drogas que me fizeram pálido. Depois de tudo isso, colocaram-me me uma prensa, da qual saí enfardado para uma longa viagem.
            Vendeu-me um negociante a um impressor. Fui para uma tipografia, novas angústias me esperavam. Puseram-me em um prelo, em que, em giros vertiginosos, palavras e gravuras eram sobre mim estampadas. Dobraram-me depois. Cortaram-me. Coseram-me cobriram-me com duas capas de cartão. E eis-me aqui, agora, meu amigo, para ir contigo à escola.
            Não me maltrates nem me desprezes. Muito sofri, para trazer-te a sabedoria dos antigos, as lições de experiência, a expressão dos prosadores e poetas, que enriqueceram tua língua materna e fizeram meigo e suave teu idioma.
            Ama-me e lê-me: eu sou teu livro.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Rachel Carson para os dias de hoje

Dorrit Harazim - O Globo
O fazendeiro americano Ezra Taft Benson serviu ao presidente Dwight Eisenhower como secretário da Agricultura ao longo de oito anos (1953-61), antes de tornar-se influente profeta da Igreja Mórmon. É dele uma pergunta que encapsula os preconceitos culturais, a ignorância científica e os interesses que predominavam no pós-Segunda Guerra Mundial: “Por que uma mulher solteira, sem filhos, está tão preocupada com a genética?”, quis saber. Ou melhor, nem quis saber, pois ele mesmo forneceu a resposta: essa mulher era comunista. Teria dito mais se soubesse, à época, que a personagem, mesmo não sendo comunista, manteve até o final da vida uma extraordinária amizade amorosa com outra mulher.
Taft Benson referia-se a Rachel Carson, autora de “Primavera silenciosa”, o seminal livro que desarrumou para melhor as até então inexistentes políticas ambientais nos Estados Unidos e obrigou o mundo a despertar para a frágil interconectividade da vida no planeta. Obra-libelo para que se investigue e regulamente o uso de pesticidas, o livro serviu de referência para a criação da primeira agencia federal de proteção do meio ambiente (EPA, na sigla em inglês), da aprovação da Lei do Ar Puro (1963), Áreas Selvagens (1964), Água Limpa (1972), Espécies em Extinção (1973), e despertou a consciência ambiental moderna.

Nascida em família rural da Pensilvânia e bolsista na universidade Johns Hopkins, a bióloga Carson não teve recursos para concluir seu doutorado em Zoologia e Genética. Mesmo assim, com “Primavera silenciosa”, produziu a reportagem investigativa de maior relevância (e clareza) do século 20. Publicado mais de meio século atrás, o clássico demonstra com rigor científico e prosa emocionante que pesticidas não apenas envenenam insetos e ervas daninhas, como desencadeiam uma cascata de mutações destruidoras da vida no planeta.
Carson não era radical, não pregava a proibição pura e simples de pesticidas químicos, apenas apontou para a necessidade de aprofundar o conhecimento de seus elementos e para as consequências de uma ciência não assentada em moralidade.
Ainda assim, a autora foi alvo de brutal campanha de descrédito por parte de setores do governo, da indústria química e do agronegócio da época. Até mesmo a editora Houghton Mifflin, responsável pela publicação do livro em 1962, recebeu intimidações jurídicas de peso.
Por que lembrar agora dessa luminosa personagem que morreu com o corpo em metástase pouco depois de concluir sua obra? Porque seus detratores de outrora pipocam em estranhas reencarnações. Vem à mente, de imediato, a recente foto de Carlos Bolsonaro, filho do presidente do Brasil, empunhando um exemplar de “Psicose ambientalista: Os bastidores do ecoterrorismo para implantar uma religião igualitária e anticristã”, de Dom Bertrand de Orléans e Bragança. O título- spoiler, que torna desnecessário descrever o conteúdo da obra, parece ter inspirado também o pai de Carlos a denunciar a existência de uma “psicose ambientalista” contra o Brasil por parte de países como Alemanha e França.
Vem à mente também o jornalista alemão Henrik Böhme, da Deutsche Welle, que considera o Gabinete do Clima criado pela chanceler Angela Merkel como um “gabinete de horrores”, e vê por trás da política de defesa ambiental um ataque subterrâneo ao sistema econômico capitalista. Na mesma linha está o site americano Fabius Maximus, onde se lê que “a esquerda incita à histeria climática para obter ganho político” e que a adolescente sueca Greta Thunberg, “ícone do apocalipse climático”, só existe como resultado de cuidadoso trabalho de mídia alimentado por grupos de interesse. Vem à mente, é claro, nosso ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para quem a Amazônia surfa em “desmatamento zero”. E também o general da reserva Augusto Heleno, que do seu gabinete brasiliense de Segurança Institucional descarta como “manipulados” dados computados pela tecnologia de ponta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Por tudo isso, mesmo para quem já leu “O fim da natureza”, de Bill McKibben, assistiu a “Uma verdade inconveniente”, de Al Gore, aguarda a vinda à Flip do jornalista David Wallace-Wells, autor de “A Terra inabitável”, e gostou do alerta sobre biocídio em “A sexta extinção: Uma história não natural”, de Elizabeth Kolbert, vale empreender um retorno ao futuro com Rachel Carson.
Ela merece. Nós também. Até para lembrar que conhecimento consiste na procura da verdade, não na busca da certeza.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Albert Schweitzer e a ética para com os animais

"Socorrendo, por exemplo, um inseto
que se acha ameaçado,
nada faço além de tentar restituir
aos animais em seu conjunto
um pouco da dívida de culpa, sempre renovada,
que os homens contraíram em relação a eles".
(Albert Schweitzer, La civilisation et l’éthique)
Por Jean Nakos  
Fundador da revista Les chrétiens et les animaux [1],
criada em fevereiro de 2004.
O homem
Albert Schweitzer nasceu no dia 14 de janeiro de 1875, em Kaysersberg (Alto-Reno), tendo falecido no dia 4 de setembro de 1965, em Lambaréné, no Gabão. Durante a quase totalidade do século XX, ele foi célebre no mundo inteiro e celebrado nos país anglófonos, na Alemanha, na Áustria, na Suíça, nos Países Baixos, na Tchecoslováquia, nos países nórdicos, no Japão e outras partes. Na França, o Dr. Schweitzer ficou conhecido sobretudo pela sua ação humanitária, antes do seu desenvolvimento completo na África, e muito menos pelo resto de sua obra. A razão disso talvez seja que este protestante liberal, alsaciano bilíngüe, escreveu muito em alemão. No entanto, Schweitzer sempre enfatizou aquilo que une a França e a Alemanha. Além disso, o seu enraizamento francês era dos mais sólidos. Fora a sua grande amizade com Romain Rolland, Alfred Cortot, Charles-Marie Widor, Théodore Monod [2], o Abade Pierre e outros, ele era o primo-irmão de Anne-Marie Sartre, nascida Schweitzer, a mãe de Sartre. Na época, Albert conduzia Jean-Paul Sartre, então criança de peito, a passeio em seu carrinho, no Bois de Boulogne [3]. Muito mais tarde, Sartre ocultava mal o seu orgulho por esse parente ilustre e inclassificável (cf. Les mots (= As palavras)). É interessante notar que o livro de Albert Souvenirs de mon enfance (= Recordações de minha infância) (1924), escrito em alemão, foi traduzido para o francês pelo seu tio Charles Schweitzer, o avô de Sartre.

Albert Schweitzer já era doutor em filosofia e doutor em teologia quando empreendeu estudos de medicina aos 30 anos de idade. Naquela época, ele era mestre de conferências (de teologia) na Universidade de Estrasburgo, pastor luterano na igreja São Nicolau da mesma cidade e diretor do seminário protestante. Foi necessário uma autorização excepcional do governo para que ele pudesse ser simultaneamente docente e estudante na mesma universidade. Seu objetivo era de trabalhar mais tarde como médico na África equatorial. Widor comparava-o com um general que deixa seu posto de comando para ir combater na linha de frente. Em 1912, Albert Schweitzer tornou-se doutor em medicina e seguiu cursos de medicina tropical.

Como se tudo isso não bastasse, Schweitzer também era muito hábil em música, como organista, como musicólogo especializado em Bach e como restaurador de órgãos. Já aos nove anos, ele substituía durante o culto protestante o organista de Gunsbach (o «pai» Iltis, seu primeiro mestre). No que concerne ao órgão, mais tarde ele se tornou aluno do mestre organista Eugène Münch (ao qual ele consagrou um livro) e, em seguida, do grande mestre e compositor Charles-Marie Widor. No piano, ele foi aluno de Marie-Jaël Trautmann, discípula e amiga de Liszt.

Albert Schweitzer, auxiliado por sua mulher Hélène Breslau (a qual, após os seus estudos de música e de história da arte, fez estudos de enfermagem), fundou, construiu, reconstruiu (em grande parte graças ao dinheiro ganho com os seus concertos, suas conferências e seus livros), dirigiu e administrou no Gabão, e isto até a sua morte, o hospital de Lambaréné, do qual ele foi o primeiro (e no início o único) médico e cirurgião. O hospital ainda existe.

Albert Schweitzer foi também um dos grandes pioneiros da luta contra as armas nucleares. Ele escrevia: «Na situação em que nos encontramos, o que importa não é discorrer por símbolos, mas abrir a boca e encher o mundo com os nossos gritos contra essa porcaria dos experimentos nucleares [4]...» Vê-se que o prêmio Nobel da Paz que ele tinha recebido em 1952 não o tinha deixado sensato... em 1958 ele tinha 83 anos.

O nosso homem não era um diletante! Ele era médico e cirurgião pleno. O doutor Schweitzer foi o primeiro no Gabão a empregar, contra a lepra, os medicamentos sintéticos sulfônicos Promine e Diasone [5].

Ele era filósofo pleno. Ele introduziu na ética ocidental o conceito do respeito pela vida, por toda a espécie de vida, humana ou animal (cf. notadamente La civilisation et l’éthique (= A civilização e a ética) e Ma vie et ma pensée (= Minha vida e meu pensamento). O filósofo Schweitzer rejeita o cogito cartesiano. Ele escrevia:

Descartes toma por ponto de partida do seu pensamento a proposição: eu penso, logo eu sou. A escolha deste ponto de partida o conduz irremediavelmente à via da abstração. Desse ato de pensamento fictício e sem conteúdo, não é possível deduzir uma proposição sobre as relações do homem consigo mesmo e com o universo. Na realidade, o dado mais importante do pensamento tem um conteúdo. Pensar significa pensar alguma coisa. O dado mais imediato do pensamento humano formula-se assim: Eu sou vida que quer viver, rodeado de vida que quer viver. É como vontade de vida rodeada de vontade de vida que o homem se concebe a si mesmo, toda vez que ele medita sobre si mesmo e sobre o mundo que o rodeia [6].

Ele era teólogo pleno. Em teologia protestante, ele foi o fundador da escola chamada de escatologia conseqüente (cf. notadamente Le secret historique de la vie de Jésus(= O segredo histórico da vida de Jesus) e La mystique de l’Apôtre Paul (= A mística do Apóstolo Paulo). Ele era músico e musicólogo pleno. Segundo Jacques Feschotte [7], foi ele o primeiro a pôr em relevo o lado poético e o lado pictórico na obra de Bach (cf. A. Schweitzer, J.S. Bach, le musicien-poète (= J.S. Bach, o músico-poeta).

Segundo Jean-Paul Sorg, o plano de uma edição completa e crítica das obras de Albert Schweitzer (sem a sua correspondência) «poderia compreender 24 volumes de 400 a 500 páginas cada um, 3 para as narrativas autobiográficas e todas as exposições sobre Lambaréné, 8 para a teologia, 8 para a filosofia. E 5 para os escritos sobre Bach, alguns outros músicos e a questão da restauração dos órgãos [8].»

Os animais

Para esse admirador de Goethe, «no começo era o ato». O amor e a compaixão de Schweitzer pelos animais não ficaram nas palavras. A par dos quatrocentos enfermos e de seus acompanhantes, todos alojados no hospital de Lambaréné, havia outros doentes, de quatro patas ou de penas, que eram abrigados e cuidados de bom grado, pois o bom doutor Schweitzer, sem que parecesse, havia realmente estabelecido também o que se chamaria hoje em dia de um refúgio de animais. Havia macacos, cachorros, gatos, galinhas, pelicanos etc., e até mesmo antílopes, que dormiam às vezes no quarto do doutor. «Há certos dias, escreve uma enfermeira inglesa que Schweitzer admitiu para os seus serviços, em que não se sabe muito bem, em Lambaréné, se a gente está num hospital ou num jardim zoológico [9].»

Três fontes alimentam a reflexão de Schweitzer sobre a proteção dos animais. Primeiramente, a sua sensibilidade de jovem rapaz que vivia no campo do século XIX. Em suas narrativas autobiográficas, ele insiste nos sentimentos de revolta que os maus tratos infligidos aos animais faziam nascer nele. Filho de pastor, ele se espanta e o diz com freqüência:

Parecia-me totalmente inconcebível que na minha oração vespertina eu não devesse orar senão pelos homens. É por este motivo que, quando a minha mãe havia rezado comigo e me havia dado o beijo da noite, eu proferia ainda, em segredo, uma oração que eu mesmo havia composto para todas as criaturas vivas. Ela dizia: «Bom Deus, protege e abençoa tudo o que respira, preserva do mal todos os seres vivos e fá-los dormir em paz [10].»

A segunda fonte é a sua interpretação da Bíblia. Para o protestante liberal [11] Schweitzer, o que importa é extrair das Escrituras a mensagem moral de Jesus Cristo e dos grandes profetas hebreus. E, segundo Schweizter, essa mensagem de amor e de não-violência também concerne, e sem nenhuma dúvida, aos animais.

A terceira fonte é o pensamento asiático, indiano e chinês. Ele escreve:

Desde que Schopenhauer me revelou, na minha juventude, o pensamento da Índia, este não cessou de exercer uma forte atração sobre o meu espírito... Além disso, sempre senti uma simpatia especial pela ética indiana, porque ela não se preocupa somente com as relações do homem com o seu semelhante e com a sociedade, mas também com a sua atitude para com todos os seres [12].

São as tradições e os pensadores indianos e chineses que ajudaram Schweitzer a organizar e a expressar o seu pensamento referente à ética do respeito pela vida. É o célebre «tat tvam asi» (isto és tu) dos Upanixades que, (depois de haver impressionado Schopenhauer), em conjunto com o versículo 3.19 do livro bíblico de Eclesiastes, leva Schweitzer a dizer:

Este escaravelho, jazendo morto à beira do caminho, era um ser que vivia, lutava para subsistir - como tu, que desfrutava dos raios do sol - como tu, que estava sujeito ao medo e ao sofrimento - como tu, e que, agora, não é mais que uma matéria em decomposição - como tu também, cedo ou tarde, te tornarás um dia [13].

E para pagar a sua dívida, Schweitzer introduz ou reintroduz no Ocidente o formidável texto jainista do século III ou IV a.C., «Ayâram gassuta», que exalta a Ahimsâ (a não-violência):

Todos os santos e os veneráveis do passado, do presente e do futuro, todos dizem, anunciam, proclamam e declaram: Não de deve matar, nem maltratar, nem injuriar, nem atormentar, nem acossar nenhum tipo de ser vivo, nenhuma espécie de criatura, nenhma espécie de animal, nem qualquer ser de qualquer tipo. Eis o puro, eterno e constante preceito da religião, proclamado pelos sábios que compreendem o mundo [14].

Mas Schweitzer faz o mesmo com o pensamento chinês. Ele chama a atenção para o fato de que «as exigências da piedade para com todas as criaturas estão formuladas da maneira mais completa no Kan-ying-p’ien (Le Livre des Actions et des Rétributions (= O Livro das Ações e das Retribuições), por volta de 1000 a 1200 d.C. [15]». Ele enumera alguns desses preceitos e conta a história da mulher do soldado Fan que, morrendo de consumpção, recusou, por piedade, comer como remédio os miolos de cem pardais. Ele cita igualmente alguns mandamentos monásticos do taoísmo chinês: «Não matarás menhum ser vivo e não farás mal a nenhum.», «Tu não consumirás nem a carne nem o sangue de nenhum ser vivo [16].»

Estas três fontes de inspiração: a sua própria sensibilidade, a mensagem evangélica extensiva a todas as criaturas, e os pensamentos indiano e chinês, levaram Schweitzer à elaboração da ética do respeito pela vida, pois, no que se lhe refere, não há nenhuma dúvida:

Unicamente a ética universal dos sentimentos da responsabilidade ampliada, extensiva a tudo aquilo que vive, pode se fundamentar sobre o pensamento. A ética do comportamento do homem para com os humanos não passa de um fragmento de ética [17].

E para dissipar todo e qualquer mal-entendido, ele escreverá um artigo, «A filosofia e a questão do direito dos animais», onde ele conclui:

A consciência não se pode subtrair a uma ética do amor e do respeito por toda e qualquer vida. Será necessário que a filosofia abandone a antiga ética de limites estreitamente humanos e reconheça o valor de uma ética global, ampliada para além do humano. Em compensação, os partidários do amor por toda e qualquer criatura devem medir bem as dificuldades que a sua ética levanta e decidir-se a não lançar um véu sobre os inevitáveis conflitos por que passa cada um de nós [18].

Este discípulo de Jesus Cristo, este admirador do Apóstolo Paulo, de Bach, de Goethe, de Gandhi, era um filósofo, mas também um teólogo. Não surpreende, portanto, o fato de que a sua ética do respeito pela vida interpele a teologia.

Ela interpela a teologia por três motivos:

1. Albert Schweitzer teve a intuição a partir da qual ele desenvolveu a sua concepção após uma longa meditação de caráter religioso ou semi-religioso. Durante meses, Schweitzer buscou a resposta à questão de saber como o homem podia ser bem-sucedido em transigir consigo mesmo e com o mundo. Isto foi no início de seu primeiro estabelecimento no Gabão. Em setembro de 1915, ele teve de empreender uma longa viagem de barco pelo rio Ogooué. Eis como ele conta esse evento:

Navegávamos lentamente... Dois dias se passaram. Ao anoitecer do terceiro, quando avançávamos na luz do sol poente, dispersando na passagem um bando de hipopótamos, subitamente me ocorreram, sem que eu as houvesse pressentido ou procurado, as palavras «Respeito pela vida». A porta de bronze havia cedido, a pista se tinha mostrado através da densidade do bosque. Enfim eu me havia aberto uma via em direção ao centro em que a afirmação do mundo e da vida se unem na ética [19].

2. Ela tem raízes bíblicas:

Tu te sentirás solidário(a) com toda a forma de vida e tu a respeitarás. Eis o mandamento supremo. Em sua formulação mais elementar, dito de maneira diversa sob uma forma negativa: Tu não matarás. Interdição que consideramos bem irrefletidamente quando, sem pensar nisso, arrancamos uma flor ou esmagamos um inseto infeliz e – sempre sem pensar nisso – quando, numa cegueira atroz, pois tudo se sustenta, desprezamos os sofrimentos e a vida dos homens, sacrificando-os a interesses terrestres mínimos [20].

3. Ela concorda com o princípio da não-violência de Jesus Cristo. Albert Schweitzer tinha perfeita consciência das inconseqüências e das lacunas expressas pelas concepções do cristianismo oficial:

Aquilo que há dezenove séculos se apresenta neste mundo como cristianismo não passa de um esboço cheio de fraquezas e erros, não o cristianismo total, emanado do espírito de Jesus [21].

Ao projetar no mundo a ética do respeito pela vida, Schweitzer deseja duas coisas:

1. Estabelecer um ideal e uma exigência absolutos.
2. Propor um meio de reconciliar a exigência ética absoluta e as possibilidades de ação do ser humano de hoje.

Eis como Schweitzer explica a sua posição:

O dado imediato da nossa consciência, aquele ao qual retornamos toda vez que queremos chegar à compreensão de nós mesmos e da nossa situação no mundo, é: eu sou vida que quer viver rodeada pela vida que quer viver.

Sendo vontade de vida, eu afirmo a minha vida, o que não quer dizer simplesmente que eu me empenho em continuar a minha existência, mas que eu a conservo como um mistério e um valor.

Meditando sobre a vida, eu me sinto na obrigação de respeitar toda e qualquer vontade de vida ao meu redor como idêntica à minha, como um valor misterioso [22].

E eis como ele exprime a sua proposição:

Se nos defrontamos com a necessidade de sacrificar uma vida, devemos buscar o perdão, socorrendo, toda vez que tivermos a ocasião de fazê-lo, um ser vivo em perigo [23].

A ética do respeito pela vida reconhece que, atualmente, o ser humano se encontra na impossibilidade de evitar o sacrifício de outras vidas para sua própria sobrevivência. Sendo a vida moderna e a pós-moderna o que são, estamos todos, até mesmo os mais inocentes dentre nós, implicados, direta ou indiretamente, pelos produtos que compramos, pela alimentação, pelos impostos e taxas que pagamos, pelos políticos - homens e mulheres – em que votamos e aos quais damos o poder de agir e de decidir em nosso nome. Certamente, compramos os produtos que nos parecem os mais inocentes. Sim, não comemos absolutamente, ou comemos o menos possível de carne ou de produtos de origem animal. Mas mesmo se fazemos tudo isso, colaboramos forçosamente com o sistema, cujos meios de acesso que conduzem à exploração intensiva dos animais, ou que vêm desta última, são múltiplos e, às vezes, desconhecidos. Até mesmo o vegetariano mais intransigente, com os impostos e taxas que paga, subvenciona, sem querer, a criação intensiva de aves, os currais de porcos industriais, a pesca marinha intensiva, etc., pois todas estas atividades são subvencionadas pelos poderes públicos com o dinheiro dos contribuintes.

Albert Schweitzer nos convida a olhar para a realidade de frente e a não desesperar. A ética do respeito pela vida leva em conta todos esses fatores.

Ela segrega um método que pode parecer lento, mas que é eficaz. Uma mudança radical do comportamento dos seres humanos requer um trabalho em profundidade. Toda e qualquer ação espontânea que vise a aliviar o sofrimento e o mal é boa e necessária, mas ela pode ter uma significação contingente. Sem negligenciar as ações espontâneas, a ética do respeito pela vida deseja sublinhar a importância dos movimentos reflexos, estratégicos, que se preocupam com o essencial, assim como com o resultado no longo prazo.

__________
Notas:
[1] www.webzinemaker.com/saintfrancois
[2] Leia-se um texto sobre Albert Schweitzer e a ética do respeito pela vida, escrito pelo seu discípulo e amigo Théodore Monod: L’hippopotame et le philosophe (O hipopótamo e o filósofo), Actes Sud, 1993, reedição Babel, 2004, pp. 333-339.
[3] Segundo o testemunho de Robert Minder in Robert Amadou (dir.), Albert Schweitzer, Études et Témoignages (Albert Schweitzer, Estudos e Testemunhos), Éditions de w:st="on" productid="la Main"la Main Jetée, 1951, p. 47. (Essa obra compila textos e testemunhos de André Siegfried, Gilbert Cesbron, Robert Minder, Maurice Polidori, Robert Amadou, Georges Marchal, Maurice Goguel, Frédéric Trensz, Jacques Feschotte e Daniel Halévy).
[4] Carta a Robert Jungk, de 29 de março de 1958, Christian Jensenn, «Os posicionamentos de Albert Schweitzer contra a corrida aos armamentos atômicos», Le Courrier de Gunsbach (O Correio de Gunsbach) nº 6, 2007, p. 3.
[5] Testemunho de Frédéric Trensz in Albert Schweitzer, Études et Témoignages, op.cit., p. 218.
[6] A. Schweitzer citado por Robert Amadou, in Albert Schweitzer, Études et Témoignages, op.cit., pp. 92-93.
[7] Albert Schweitzer, Études et Témoignages, op.cit., p. 253.
[8] Albert Schweitzer, Humanisme et mystique (Humanismo e mística), textos selecionados e apresentados por Jean-Paul Sorg, Albin Michel, 1995, p. 9.
[9] Albert Schweitzer, Études et Témoignages, op.cit., p. 290.
[10] La vie et la pensée d’Albert Schweitzer (A vida e o pensamento de Albert Schweitzer), uma publicação da Associação suíça de auxílio ao hospital Albert Schweitzer de Lambaréné, realizada por Richard Brulmann, tradução de Félix Lévy, 1989, p. 5.
[11] O protestantismo liberal privilegia a moral evangélica em detrimento dos dogmas.
[12] Albert Schweitzer, Les grands penseurs de l’Inde (Os grandes pensadores da Índia), Petite Bibliothèque Payot, 1962, p.8.
[13] Primeiro Sermão sobre o Respeito pela Vida, 16 de fevereiro de 1919, igreja de São Nicolau, de Estrasburgo, in Albert Schweitzer, Vivre - Paroles pour une éthique du temps présent (Viver - Palavras para uma ética do tempo presente), Albin Michel, 1970, reedição, coleção «Espaces libres» («Espaços livres»), 1995, p. 169.
[14] Les grands penseurs de l’Inde, op.cit., p. 65.
[15] Id., pp. 67 e 68.
[16] Id., p. 108.
[17] Albert Schweitzer, Ma vie et ma pensée (A minha vida e o meu pensamento), Albin Michel, 1960, p. 173.
[18] Humanisme et mystique (Humanismo e mística), op.cit., p. 120.
[19] Ma vie et ma pensée, op.cit., p. 171.
[20] Primeiro Sermão sobre o Respeito pela Vida, Vivre – Paroles pour une éthique, op.cit., p. 171.
[21] Ma vie et ma pensée, op.cit., p. 264.
[22] Comunicação perante a Academia das Ciências Morais e Políticas, no decorrer da sessão de 20 de outubro de 1952, Cahiers Albert Schweitzer (Cadernos Albert Schweitzer), nº 108, 1997, pp. 30-31.
[23] Charles Hoerman, «Petit florilège d’aphorismes, pensées et dits d’Albert Schweitzer» («Pequeno florilégio de aforismos, pensamentos e ditos de Albert Schweitzer»), in Cahiers Albert Schweitzer, nº 108, 1997.
Fonte: Cahiers Antispecistes
Foto: Pixabay

quinta-feira, 14 de março de 2019

Árvores citadas na Bíblia


AS ÁRVORES DA BÍBLIA

Abrolhos Jz.8.7, Isa.55.13
Almugue 1Rs.10.11 ;
Amendoeira Ecl.12.5, Jr.1.11
Amoreiras Lc.17.6, 2Sm.5.23
Azinheira Isa.6.13
Buxo Isa.60.13
Carvalho Gn.35.4, Isa.1.30
Cedro 1Rs.4.33, Ez.17.22
Cetim Êx.25.5; 20.15; 30.1, etc.
Cipreste Isa.44.14; Cant.4.13
Espinheiro Jz.9.14,15
Faia 1Rs.6.34
Figueira Am.4.9, Lc.13.6; 19.4
Macieira Cant.2.3, Jl.1.12
Mostarda Mt.13.31
Murta Zac.1.8
Oliveira Deut.24.20, Rm.11.24
Olmeiro Isa.44.14
Palmeira Êx.15.27, Jo.12.13
Pinheiro Is.60.13
Romeira 1Sm.14.2, Cant.4.13
Salgueiro Slm.137.2
Sândalo Nm.24.6
Sicômoros Am.7.14
Sita Isa.41.19
Vide Gn.40.9, Jo.15.1
Zambujeiro Rm.11.24
Zimbro 1Rs.19.4, Jó 30.4
Satisfazem-se as árvores do Senhor Slm.104.16
A árvore da ciência do bem e do mal Gn.2.9,17
A árvore da vida Gn.2.9; 3.22
Apoc.2.7; 22.2

A. Doolan - O Pequeno Companheiro da Bíblia


Outras referências:

Diferentes espécies:
  • Do bosque: Ct.-2:3;
  • Da floresta – Is. 10:19;
  • Frutíferas: Ne- 9:25; Ecl- 2:5 : Ez. 47:12;
  • Perenemente verde-sal. 37:25; Jr. 17:2;
  • As que perdem as folhas: Is. 6:13;
  • De vários tamanhos: Ez: 17: 24;
  • Dados como alimento aos animais: Gen. 1:29; Deut. 20:19;
  • Designadas para embelezar a terra- Gen.2: 19;
  • Mencionadas suas partes: Raízes – Jr. 17:8;
  • Tronco- Is.11:1; 44:19;
  • Ramos -Lv.23:40; Dan.4:14;
  • Rebentos – Lc. 21:29,30;
  • Folhas: Is. 6:13; Dn. 4:12, Mt. 21: 19;
  • Frutos ou sementes: Lv. 27 :30, Ez. 36 :30;
  • Cada espécie: Própria semente que propaga – Gen.1: 11,12;
  • Propagação por aves que levam as sementes: Ez.17:35;
  • Plantadas pelo homem: Lv. 19:2;
  • Conhecida pelo fruto: Mt. 12: 33;
  • Nutridas: Pela terra – Gen. 1:12 ; 2:9.
  • Pela chuva: Is. 44:14.
  • Pela seiva: Sal. 104:16.
  • Florescem nas margens dos cursos d água: Ez.47: 12.
  • Quando cortadas, florescem novamente as raízes: Jó 14: 7.
  • Eram vendidas com o terreno em que se achavam: Gen. 23: 17.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Tony Rinaudo, o Fazedor de Florestas


https://www.rightlivelihoodaward.org/laureates/tony-rinaudo/

O engenheiro agrônomo australiano Tony Rinaudo é conhecido como o “criador da floresta”. Tendo vivido e trabalhado na África por várias décadas, ele descobriu e colocou em prática uma solução para o extremo desmatamento e desertificação da região do Sahel. Com um conjunto simples de práticas de manejo, os agricultores regeneram e protegem a vegetação local existente, o que ajudou a melhorar a subsistência de milhões de pessoas.

Rinaudo foi pioneiro em uma técnica que envolve o crescimento de árvores a partir de sistemas radiculares existentes, que muitas vezes ainda estão intactos e que Rinaudo se refere como uma "floresta subterrânea". Ao escolher as plantas certas, e podando-as e protegendo-as de um certo modo, elas logo se transformam em árvores. Rinaudo percebeu que, se fossem pessoas que reduzissem a floresta a uma paisagem árida, seria necessário que as pessoas a restaurassem. A mudança de atitudes tem sido fundamental para o sucesso do trabalho de Rinaudo.

O método de regeneração natural de Rinaudo, gerido por agricultores, restaurou 50.000 km 2 de terra com mais de 200 milhões de árvores apenas no Níger. Ele tem o potencial de restaurar as terras secas atualmente degradadas com uma área do tamanho combinado da Índia. O que o Rinaudo criou é muito mais do que uma técnica agrícola, ele inspirou um movimento liderado por fazendeiros que regenera a terra na região do Sahel.

Biografia

Um jovem agrônomo em um país desmatado

Tony Rinaudo nasceu em 19 de janeiro de 1957 na Austrália. Ele cresceu na região agrícola do vale de Ovens, no norte de Victoria. Já em tenra idade, ele se sentiu preocupado com as práticas agrícolas ambientalmente destrutivas em sua região. "Naquela época, eles estavam usando aviões para pulverizar a colheita", lembra ele. “Isso mataria peixes no riacho. Eles limpariam a mata nativa, que eu amava, e substituiriam por uma monocultura de pinheiros ”.
Preocupado com as condições de vida dos pobres do mundo, Rinaudo estudou ciências agrícolas na Universidade da Nova Inglaterra em Armidale. Depois de se formar em Ciência Rural, ele se juntou à organização missionária 'Servir em missão' e, em 1981, mudou-se para o Níger, na esperança de usar seu conhecimento para melhorar a vida das pessoas. A região do Sahel foi atingida por secas severas e fome na década de 1970. Posteriormente, a desesperada situação econômica e práticas agrícolas importadas, como as monoculturas. levaram os agricultores a derrubar árvores em larga escala, o que levou ao desmatamento extremo e à degradação da terra.
Como muitos outros especialistas em desenvolvimento, o foco de Rinaudo era ajudar a população rural a plantar árvores. Ele organizou um viveiro de árvores e trabalhou com as comunidades para plantar e proteger as mudas. Mas as taxas de sucesso foram baixas. Apenas 10% das mudas sobreviveram às tempestades de calor e poeira, e as sobreviventes seriam comidas por cabras ou cortadas pelas pessoas para lenha. Rinaudo estava perto de desistir.

Descobrindo a “floresta subterrânea”

Em 1983, quando parou à beira da estrada no caminho entre as aldeias rurais, Rinaudo teve uma percepção que mudaria radicalmente sua abordagem. Ele se lembra de como um dos pequenos arbustos comuns que crescem no campo chamou sua atenção: “Eu já tinha visto esses arbustos muitas vezes antes, mas nunca havia registrado sua significância. Fui até lá para dar uma olhada mais de perto. ”Rinaudo detectou que o“ mato ”era de fato uma árvore, que havia sido cortada e estava re-brotando do cepo. Havia milhões de tais arbustos, que os agricultores rotineiramente cortavam ou queimavam em preparação para o plantio. Seus sistemas radiculares ainda estavam intactos, mas escondidos no solo. Com algum cuidado apropriado, ele percebeu, as árvores que ele estava tão desesperadamente tentando plantar poderiam crescer naturalmente dessa “floresta subterrânea”.
“Ao 'descobrir' essa floresta subterrânea”, lembra Rinaudo, “as linhas de batalha foram redesenhadas imediatamente. O reflorestamento não era mais uma questão de ter a tecnologia certa ou orçamento, equipe ou tempo suficientes. Não se tratava nem de lutar contra o deserto do Saara, nem com cabras ou com a seca. A batalha agora era desafiar crenças, atitudes e práticas profundamente arraigadas e convencer as pessoas de que seria de seu interesse permitir que pelo menos alguns desses 'arbustos' se tornassem árvores novamente. ”Ele percebeu que se as pessoas tivessem reduzido a floresta a uma paisagem estéril exigiria que as pessoas a restaurassem - e falsas crenças, atitudes e práticas precisariam ser desafiadas com verdade, amor e perseverança.

Regeneração natural gerenciada por agricultores

A partir desse insight, a Rinaudo desenvolveu o conceito de regeneração natural gerenciada por agricultores (FMNR), um conjunto muito simples de ações que os agricultores podem fazer para regalar suas terras. Em primeiro lugar, os agricultores pesquisam suas terras e escolhem entre as espécies locais existentes as que são certas para se regenerar. Em segundo lugar, os agricultores seleccionam alguns caules que pretendem cultivar, enquanto cortam o resto a ser utilizado, por exemplo, como forragem ou cobertura morta. Então, as hastes selecionadas são cortadas até a metade do tronco. Finalmente, o fazendeiro marca as árvores em crescimento e as protege. O processo é repetido a cada dois a seis meses.
Em 1983, Rinaudo começou a experimentar e promover o conceito com 10 agricultores. Durante a fome severa de 1984, Servir em Missão introduziu um programa de alimentos por trabalho que introduziu cerca de 70.000 pessoas na regeneração natural gerenciada por agricultores e implementou sua prática em cerca de 12.500 hectares de terras agrícolas. De 1985 a 1999, o projeto continuou a promover o método local e nacionalmente, pois Rinaudo organizou visitas de intercâmbio e jornadas de treinamento para várias ONGs, silvicultores do governo, Voluntários do Corpo da Paz, bem como grupos de agricultores e da sociedade civil.

Greening the Sahel - impacto e futuro potencial

A regeneração natural gerida por agricultores tornou-se um enorme sucesso no Níger. Devido à sua simplicidade, adaptabilidade local, baixo custo (cerca de US $ 20 por hectare), fácil combinação com outros métodos agrícolas e resultados rápidos, uma vez estabelecido o método difundido através da aprendizagem entre os agricultores, com necessidade limitada de intervenção externa . No Níger,  cinco milhões de hectares de terra com mais de 200 milhões de árvores foram restaurados  dessa forma, com dois milhões e meio de pessoas beneficiando-se do melhor aproveitamento da terra. Pelo menos 22 países africanos já estão usando o método.
“Se o Níger, um dos países mais pobres do mundo, com um clima extremo à beira do deserto do Saara, com o mínimo de interferência ou financiamento de ONGs e governo, pode restaurar 200 milhões de árvores em 5 milhões de hectares durante um período de 20 anos em grande parte Para o movimento de agricultores, o que seria possível se todas as partes interessadas - doadores, cientistas, governos, decisores políticos, empresas, ONGs, líderes tradicionais e religiosos e agricultores - se associassem e estivessem a sério na restauração de terras? Tecnicamente, não há razão para que simultaneamente 5 milhões de hectares de terra não possam ser restaurados em vários países dentro de cinco anos ”.
/ Tony Rinaudo
Há ampla adoção popular do método FMNR por agricultores em todo o Sahel e além, junto com mais e mais ONGs que estão promovendo o projeto em colaboração com agricultores e grupos comunitários. Os governos também estão adotando cada vez mais esse método e estabelecendo metas ambiciosas para a restauração de terras, com o apoio tanto de doadores bilaterais quanto de bancos de desenvolvimento. O Instituto de Recursos Mundiais estima que mais de 300 milhões de hectares de terras atualmente degradadas responderiam positivamente à regeneração natural gerenciada por agricultores, e Rinaudo tem planos de espalhar a técnica para 100 países até 2020. Em 1999, ele foi contratado pelo desenvolvimento baseado na fé. organização World Vision, que fornece uma plataforma e recursos para que essa visão se torne realidade.
Para fornecer aos formuladores de políticas e praticantes o conhecimento necessário para implementar plenamente o FMNR, a Visão Mundial uniu forças com o World Resources Institute e o World Agroforestry Centre no que é chamado de Parceria para Agricultura Evergreen.
“Na regeneração natural manejada pelos fazendeiros, o poder dos sistemas tradicionais de conhecimento que são combinados com a ciência convencional realmente ganha vida. A escala de reabilitação da terra nesta região (África Subsaariana) e o impacto que ela teve no bem-estar da população local é nada menos do que fenomenal. ”O significado e o potencial futuro desse desenvolvimento positivo para as pessoas do mundo. O Sahel, uma região fortemente impactada por megatendências globais, como mudanças climáticas e migração, dificilmente pode ser subestimada.
Luc Gnacadja, ex-secretário executivo da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e membro do World Future Council, conclui:

Prêmios e elogios

Por seu trabalho no FMNR, Rinaudo ganhou vários prêmios, incluindo a Iniciativa de Melhores Práticas e Inovações da Interaction 2010; Fórum Global de Resiliência da Visão Mundial, 2011; Prêmio Arbor Day para Inovação em Educação, 2012; Prêmio UNCCD Land for Life, 2013.
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