terça-feira, 20 de outubro de 2020

Embrapa e Ministério da Cidadania lançam curso de EAD sobre hortas pedagógicas

 


No Dia Mundial da Alimentação, comemorado em 16/10, a Embrapa Hortaliças e o Ministério da Cidadania anunciaram que a experiência do projeto Hortas Pedagógicas, implantado em escolas do Maranhão e do Piauí, será estendida para todo o Brasil por meio do curso de Educação a Distância “Gestão de Hortas Pedagógicas”. As inscrições gratuitas podem ser feitas no período de 23 a 30 de outubro pelo  portal e-campo da Embrapa (www.embrapa.br/e-campo). O evento on-line ocorrerá entre 04/11 e 04/12. 

Kelliane Fuscaldi, coordenadora-geral de Apoio à Agricultura Urbana e Periurbana, do Ministério da Cidadania que acompanhou as ações desenvolvidas naqueles estados, define o projeto Hortas Pedagógicas como um importante instrumento para “fortalecer o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) por meio de ações de agricultura urbana e periurbana nas escolas”.  

“Através da educação multidisciplinar, o projeto promove orientações sobre a alimentação saudável e adequada, ao mesmo tempo em que aumenta o acesso e o consumo desses alimentos por populações que vivenciam altos índices de vulnerabilidade social”, pontua a coordenadora.

O curso, desenvolvido pela Embrapa Hortaliças (Brasília-DF), é tido como um desdobramento da parceira firmada em 2018, por meio de termo de execução descentralizada entre o Ministério da Cidadania e a Embrapa Hortaliças. 

“A ideia que norteou o projeto permanece: fortalecer ações de educação alimentar e nutricional, e o Hortas Pedagógicas é a ferramenta com a qual trabalhamos para criar essas condições”, explica Guida Gorga, analista da área de Transferência de Tecnologia (TT) e coordenadora-geral do projeto na Embrapa, que detalha os passos seguidos para chegar ao curso on-line. 

Segundo ela, após implementada a etapa-piloto, relacionada aos projetos de Hortas Pedagógicas em quatro escolas – duas no Maranhão e duas no Piauí, escolhidas pela situação de extrema vulnerabilidade na questão da segurança alimentar – “recolhemos essas experiências e produzimos um material técnico e pedagógico bastante robusto, composto de cartilhas, videoaulas e planners, enfim todo o conteúdo do que foi aplicado na prática e que as escolas vão poder implementar de forma autônoma”.

PÚBLICOS

O conteúdo disponibilizado pelo curso on-line visa alcançar diversos públicos, a exemplo de gestores de escolas e professores que queiram adotar o conhecimento sobre hortas como recurso educacional para ser utilizado em sala de aula, e também para nutricionistas e merendeiras. “O curso é baseado em um projeto que deu certo, e a prova desse acerto são as notícias que chegam até nós, informando que as escolas contempladas na primeira etapa do projeto estão mantendo as hortas”, resume Gorga.
 

Serviço

O quê: Live “Implantação da Etapa Piloto do Projeto Hortas Pedagógicas – aprendizados e desafios”

Data: 21/10/2020

Horário: 14h às 15h30

OndeYoutube da Embrapa 

Núcleo de Comunicação Organizacional
Embrapa Hortaliças

Contatos para a imprensa
Telefone: (61) 3385-9109

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)


segunda-feira, 27 de julho de 2020

O meu vizinho, anônimo herói pró-vida


Imagem ilustrativa - O Tempo

Ontem o gritei enquanto eu voltava da mercearia, onde fora comprar um real de pão e um quilo de açúcar Guarani – aquele intermediário entre o União e o Caravelas.
Ele passara por mim há pouco com sua bicicleta de carga e suas roupas indefectivelmente sujas, como de estivador. Eu queria dar-lhe alguns remédios que comprara para um dos gatos da casa, e que agora ficaram sem uso, e poderiam estar fazendo falta para alguém.
Ele é um desses alguéns e conhecedor de muitos outros como ele – um protetor de animais, um zelador da criação numa luta dantesca contra tantos gigantes – da coisificação dos animais ao discurso dos politicamente corretos de sofá & plantão – “Tanta gente precisando de ajuda, e você salvando cães?”.
Ele, que tem emprego fixo, após o expediente engata no segundo batente – coletor de reciclagens, cuja boa parte do lucro, eu o sei, é destinado a alimentar e cuidar de animais sob a guarda dele e de outros. Lida com lixo – o lixo humano que não entende a nobreza de suas ações, e o lixo produzido com tão desembestada fartura pelo bicho homem, a quem até nisso ele ajuda, recambiando os materiais para que a Terra, brevemente poupada, tenha um quilo a mais de fôlego.
É um camarada excepcionalmente fora da curva – ao menos da curva que nossos cansados e míopes olhos suburbanos alcançam. Arredio a festas e maiores confraternizações ou infernizações sociais, diz não pertencer “a nenhum sistema”; acredita na força superior que a tudo gerou e sustém.
Construiu sua grande casa praticamente sozinho, e nela vive sem aporrinhar ninguém, em nenhum dos trezentos e tantos dias do ano. Como acontece aos demais de sua espécie, a incompreensão leva os demais a cognominá-lo de “maluco”. Bem, até eu já carreguei essa bandeira nas costas. Em certos momentos ela vira até menção honrosa, escudo. Mas voltemos ao nosso homem. Ele se incomoda com carros largados em sua porta, ou a venda de drogas perto a seu portão? Sim. E você, não? Tem um pouco menos de medo que o normal dos homens, mas nada que o faça um Superman. A ninguém aborrece, a todos cumprimenta, e vive como pode sua inadequação.
Enquanto conversávamos em meu portão, vizinho ao dele, um casal de também vizinhos passou pela rua e lhe agradeceu – pela ajuda prestada, vim a saber, com um cachorrinho da tal família que havia ferido internamente o ouvido. Ele, com quem as pessoas têm pouca paciência de conversar – o abençoado insiste em não se enquadrar nos padrões, e olha que cada um de nós tem centenas de padrões pré-programados para engarrafar os outros – disse que fazia aquilo por missão, por senso de missão.
O homem, já senhor de seus sessenta e poucos anos, mas com cara de 45, firme calibre, disse não ser digno de agradecimentos. Pois é apenas um ser humano cumprindo seus propósitos de vida. E que o que fazia nada era, e que já fora, ele também, muito ajudado por muitas pessoas. “Dente da engrenagem, elo da corrente de Gaia”, pensei.
Sendo aguardado pela patroa, tive que me despedir. Enquanto trancava o portão, me surpreendi silenciosamente feliz por um homem de exceção como aquele, misantropo que tão bem conhece a miséria humana, mas a peita e contradiz, ter um tão grande e incompreensível carinho por mim. Oxalá eu, outro gauche na vida, como ele, como Drummond, esteja no caminho certo, seja um dos humílimos remadores contra a corrente?
Sérgio é o nome dele. Um dos muitos gonçalenses anônimos que sustentam essa terra de pé – reserva moral, reserva de amor, reserva de proatividade pró-vida – reserva sem reservas. Um dos quais o mundo não é digno, como diz a Bíblia (Hb 11.38) acerca de santos.

Sammis Reachers
Artigo publicado originalmente no Jornal Daki

terça-feira, 26 de maio de 2020

Imprensa, o Cão de Guarda (contra os canalhas)


Merval Pereira
A mais explícita prova da importância do jornalismo profissional para a saúde da cidadania quem forneceu foi o ministro do Meio-Ambiente Ricardo Salles no seu pronunciamento na reunião ministerial cuja integralidade a Nação, embasbacada, pôde ver e ouvir semana passada, no desdobramento do processo aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar a denunciada interferência do presidente Bolsonaro na Polícia Federal.
A bem da verdade, tenho que ressaltar que Salles foi apenas imprudente e, ao fazer o elogio da esperteza a serviço da imoralidade na ação pública, destacou a importância da suposta “tranquilidade” que a vigilância da imprensa dava ao se concentrar na cobertura da Covid-19 para abrir caminhos a medidas que, em tempos normais, encontrariam obstáculos na reação da opinião pública, e dos sistemas Judiciário e Legislativo, alertados pela imprensa.
Disse ele, como se desse instruções a comparsas sobre como bater a carteira dos desavisados: “ (...) pra isso, precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid-19, e ir passando a boiada, e mudando todo o regramento, simplificando normas. (...) Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação, é de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos”.
É justamente essa a atribuição da imprensa, fazer com que a Nação saiba os projetos e desígnios do Estado, e possa debatê-los. Era isso, exatamente, que o ministro não queria que acontecesse. A “opinião pública” surgiu através principalmente da difusão da imprensa, como maneira de a sociedade civil nascente se contrapor à força do Estado absolutista e legitimar suas reivindicações no campo político.
Não é à toa, portanto, que o surgimento da “opinião pública” está ligado ao Estado moderno, que pressupõe transparência do poder público, e não manobras sub-reptícias que, se precisam da escuridão para serem efetivadas, é porque beneficiam algum setor, e não a sociedade.
É por isso que o papel da imprensa profissional é o de ser o cão de guarda da sociedade, segundo definição clássica do presidente dos Estados Unidos Thomas Jefferson, que dizia que, para cumprir essa missão, a imprensa deve ter liberdade para criticar e condenar, desmascarar e antagonizar.
A diferença entre figuras como Bolsonaro e Jefferson está não apenas aí, mas também. No sistema democrático, a representação é fundamental, e a legitimidade da representação depende da informação. “Uma nação conversando consigo mesma” é a definição de jornalismo do teatrólogo americano Arthur Miller, enquanto para Rui Barbosa, a imprensa é a vista da nação. “Através dela, acompanha o que se passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam ou roubam, percebe onde lhe alvejam ou nodoam, mede o que lhe cerceiam ou destroem, vela pelo que lhe interessa e se acautela do que ameaça”.
É dessa vigilância cidadã que fugia Ricardo Salles, que já havia mentido oficialmente ao rejeitar as denúncias de ONGs de que o desmatamento da Amazônia estava crescendo muito, depois que justamente ele, aproveitando que o país está preocupado com as vidas que estão sendo ceifadas pela Covid-19, afrouxou as normas de fiscalização na região.
Como demonstrou o ministro do Meio Ambiente, o jornalismo continua sendo um espaço público em torno do qual se forma o consenso para a construção da democracia, e é através dele que a sociedade opina e recebe informações que lhe permitirão tomar posição diante de decisões do governo.
Recentemente, o chefe do Gabinete do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno, depois de se queixar da imprensa, disse que o governo tem as redes sociais para defende-lo das críticas. Confundiu militância política e fake news com informação com credibilidade. Assim como Bolsonaro confunde os organismos oficiais de inteligência e informação com seu sistema particular que, por ser clandestino e ilegal, não tem credibilidade. O bom jornalismo depende da credibilidade de quem o faz, e essa credibilidade está posta em xeque pelas milícias digitais a serviço do governo, qualquer governo.
in O Globo, 26/05/2020

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Cinco dicas para aliviar a ansiedade da quarentena e do coronavírus


Primeiro o trivial
Muita gente está, com muita razão, sentindo-se ansiosa e com medo não apenas da doença causada pelo novo coronavírus, mas também ante a paralisação da sociedade e da economia, com um nível de incerteza não vivido por gerações.
Você não está sozinho em se sentir assim. Mas o que você pode fazer quando seus pensamentos continuam agitados e não consegue se livrar da sensação de aperto no peito?
"Siga as notícias e as instruções dadas pelas autoridades. Essa é a melhor estratégia de enfrentamento que você pode ter. E deixe-me acrescentar logo: essa situação vai melhorar," diz Hans Nordahl, professor de psicologia clínica e medicina comportamental na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia.
Nordahl acentua que é natural sentir mais preocupação, ansiedade e desconforto em uma situação como a atual. De fato, o medo pode até mesmo ser útil em certa medida.
"Paradoxalmente, o medo do coronavírus pode ajudar a conter a propagação da infecção, mas o medo também pode facilmente sair de proporção e deixar as pessoas ansiosas e estressadas no dia a dia," ressalva ele.

A perspectiva maior
Mas é possível também lidar melhor com toda esta situação, sem sofrer desnecessariamente ou de forma exagerada. Para o pesquisador, isso pode começar com a pessoa colocando a situação atual em uma perspectiva mais ampla.
"Lembre-se de que esta é uma situação muito especial que não experimentamos no período pós-Segunda Guerra Mundial. Esta fase de nossas vidas estará nos livros de história. A história está sendo escrita agora. Você faz parte dessa história. Nós estamos sendo expostos a uma nova crise, tanto em termos de saúde quanto da situação econômica. Tivemos crises econômicas, demissões e falências há dez e vinte anos também, mas não um problema de saúde como esse," destaca Nordahl.
Ter essa noção clara de que esta situação vai passar pode também nos ajudar a vê-la não como uma catástrofe, mas como um grande desafio, algo de que até nos orgulharemos quando contarmos essa história e de como tivemos forças para enfrentá-la e superá-la.

"Desafios são algo sobre os quais podemos agir. Preocupações e pensamentos catastróficos podem facilmente nos levar a verificar se há sintomas ou desconforto no corpo e na cabeça, o que, por sua vez, provoca sensação de mal-estar e ansiedade. A ação é o que é importante agora e evitar cair na armadilha da preocupação e do pensamento catastrófico," diz Nordahl.
Para ser mais direto e mais prático, o psicólogo oferece cinco dicas para lidar com o medo da pandemia, do coronavírus, da situação econômica e dos atos desastrados de políticos que demonstram não saber o que fazer:
  • 1.
    Esteja ciente dos fatos da situação quando surgirem pensamentos de ansiedade. Uma abordagem orientada a fatos é útil em tempos incertos. Você ganha um controle melhor e mais eficaz sobre a situação e minimiza seu pensamento catastrófico. Lembre a si mesmo de que ser orientado a fatos implica verificar o que é relevante e o que você realmente sabe sobre a situação, em não se iludir ou se concentrar ou especular sobre o pior que poderia acontecer.
  • 2.
    O pensamento catastrófico cria preocupação e ansiedade. Qual é o sentido de pensar nisso como um desastre? Se você vê toda essa situação como um desafio, irá pensar em qual é a coisa mais útil em que você pode se concentrar. Por exemplo, você pode criar um plano para lidar com as questões financeiras? Se você for demitido, como pode usar o tempo?
  • 3.
    Muitas pessoas têm problemas para lidar com os desafios da vida, mas se preocupar não ajuda. Preocupar-se não é muito útil para resolver problemas e inibe atividades que podem resolver problemas. É como sentar em uma espécie de cadeira de balanço mental, balançando freneticamente para frente e para trás, sem chegar a lugar algum. Preocupar-se é sucumbir ao pior resultado possível. As preocupações surgem e criam estresse e turbulência. É natural se preocupar, mas quão apropriado é se preocupar o tempo todo?
  • 4.
    Preocupações e ansiedade podem surgir quando você se concentra em ameaças e perigos futuros. Pense mais sobre o que você pode fazer no momento e se envolva em atividades que você pode fazer agora. Que tal fazer uma faxina? Ou finalmente arrumar aquele armário? Lavar as janelas? Pintar a garagem? Usar aquela esteira que tem funcionado como cabide há anos? Faça coisas práticas ou úteis que você não teve tempo de fazer antes.
  • 5.
    Sinta-se à vontade para compartilhar suas preocupações ou sentimentos de ansiedade com outras pessoas, se sentir necessidade, mas compartilhe outras coisas que também são importantes na sua vida cotidiana. No final, é você quem decide se deseja focar ou não na ansiedade.
"Se você vê esta situação como um desafio, vai pensar no que é mais apropriado para você se concentrar, aqui e agora," sugere o professor Nordahl.


quarta-feira, 29 de abril de 2020

A crise do coronavírus e seus rearranjos “glocais”



Teóricos das mais diferentes disciplinas têm observado com espanto tanto esta crise global causada pelo Covid19, quanto as perspectivas que se descortinam após o sombrio horizonte, quando finalmente (que perto esteja!) rompermos essa cadeia que nos encerra.
O consenso é o mesmo: O de que o mundo o mesmo já não será, mas um rearranjado. Pois é patente que o mundo passa e passará pelo que eu tenho chamado de um Reordenamento Estrutural Glocal (Glocal = Local + Global).
A explosão de dramas existenciais os mais diversos ocupará as manchetes de jornais, as conversas de bar, de clube, de banco de igreja, e as obras de artistas de todas as assim chamadas nove artes, por muito tempo.
Novas patologias psíquicas emergirão deste período? É provável. Muitas pessoas, jamais submetidas a um tal estresse psicológico, terão nele o gatilho que de outra forma talvez nunca sofressem, para a eclosão do trauma e seus manifestos.
Esse entrevero todo abre espaço, por outro lado, para, se não o ressurgimento (pois isso sempre esteve aí), ao menos a amplificação e recalibração dos movimentos de contemplação interior, da espiritualidade em suas múltiplas facetas à filosofia e seus questionamentos ontológicos. Observar como a natureza respira e prospera enquanto nós nos (res)guardamos em nossas casas dará também o que pensar, até mesmo àqueles que não costumam entregar-se a tão refinado esforço.
Outra assertiva: Haverá uma provável corrida ampla, tocada com algum desespero, em direção ao emprego público e suas (ainda?) seguranças, movida por novos e antes improváveis players, antes confortáveis em seus negócios particulares ou na vida corporativa. Isso porque os entusiastas do laissez faire foram golpeados na parte mais sensível de seus corações: O fundo do bolso.
Comércios e indústrias que forem heróis da resiliência precisarão cambiar de modus operandi (modo de operação) ou modus faciendi (modo de fazer) ou até mesmo modus vivendi (modo de viver). Os que ainda nem pensavam nas plataformas de vendas online, da tradicional e arcaica cerâmica de tijolos em Itaboraí até a mercearia do seu Antônio aí na sua esquina, precisarão focar nessa seara, nem que a título de ensaio. Afinal, quem sabe quando vem a próxima crise?
O sindicato dos entregadores há de se fortalecer: Em breve eles serão os novos “rodoviários”: Os emergentes aqueles-de-quem-as-urbanidades-não-vivem-sem. Isso, se ainda houver sindicatos – cujo principal inimigo, o (neo)liberalismo, tem sido chicoteado como um escravo de galé, e pode vir a ser o primeiro grande defunto de toda essa crise coronária – para desespero de viúvas e carpideiras. Mas aí já estaríamos tocando com um dos pés na ilha de Utopia...
O que não é utopia é que, ao fim e ao cabo, a humanidade vencerá. Escreva esta certeza, tatue dentro de seus sonhos e cismares: A humanidade assimilará o golpe, e se erguerá maior, pois ferida daquilo que a faz ser o que ela é, ferida de ainda mais humanidade.

Sammis Reachers

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Oração do Cão Abandonado - Um texto singelo e impactante

Suren Nersersisyan

Oração do Cão Abandonado

Autor desconhecido

DEUS
Sei que sou um ser criado por ti, para ser amado
pelos homens mas nasci sem a sorte de alguns de minha espécie.

Hoje meu dono levou-me a um passeio de carro.
Chegamos em uma praça, ele tirou minha coleira,
me fez descer do carro, e virando-me as costas,
foi embora e nem se despediu.

Tentei segui-lo mas o carro corria muito e não pude alcançá-lo.
Caí exausto no asfalto. Ainda não entendi. Por que ele me abandonou?

Eu sempre o recebi abanando o rabo, fazia festa e lambia seus pés.
Sempre lati forte, para defendê-lo e afastar os estranhos da porta.

Eu brincava com as crianças... ah! elas me adoravam.
Que saudades. Será que elas ainda se lembram de mim?

Deus, eu fico imaginando como seria bom se eu pudesse
comer agora. Puxa, estou faminto.

Não tenho água para beber, e estou tão cansado.

Procuro um cantinho onde possa me abrigar da chuva,
mas muitas vezes sou chutado.
As pessoas não gostam muito de mim aqui nas ruas.

Estou fraco, não consigo andar muito,
mas encontrei enfim um lugar para passar essa noite.

Está muito frio e o chão está molhado.
Já não tenho pêlo para me aquecer, estou doente,
e creio que ainda hoje vou me encontrar contigo.
Aí no céu meu sofrimento vai terminar.

Peço-vos então, pelos outros, por todos os cãezinhos e animais
abandonados nas ruas, nos parques, nas praças.

Mande-lhes pessoas que deles tenham compaixão,
pois sozinhos, viverão poucos meses, serão atropelados,
sofrerão maltratos dos impiedosos. Proteja-os.

Amenize-lhes esse frio, com o calor das pessoas abençoadas.

Diminua-lhes a fome, tal qual a que sinto, com o alimento do amor que me foi negado.

Sacie-lhes a sede com a água pura dos Seus ensinamentos.

Elimine a dor das doenças, dos maltratados, estirpando a
ignorância do homem.

Tire o sofrimento dos que estão sendo sacrificados em atos
apregoados como religiosos, científicos, tirando das mãos
humanas a sede pelo sangue.

Abrande a tristeza dos que, como eu, foram abandonados,
pois, dentre todos os sofrimentos, esse foi o maior e mais
duro de suportar.

Receba, DEUS, nesta noite gelada, a minha alma, e
minha oração pelos que aqui ficam. É por eles que vos peço,
pois não são humanos, mas são Seus filhos, 
e são leais e inocentes, 
e foram criados por Suas mãos e merecem o Seu abrigo.

Amém.

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